segunda-feira, 4 de agosto de 2008

REFORMA DA IGREJA

Importante na arquitetura, apesar de diferir do tradicional colonial implantado no solo da Cidade de Salvador, seus traços contam a história da cidade e mostram o desenvolvimento econômico do Estado.
A Igreja de Nossa Senhora D'Ajuda, mais de 457 anos, ganhou roupa nova e está totalmente recuperada. Foi quase quatro anos de obras e restauração para devolver suas imagens, altares, púlpito aos devotos que percorrem as ruas do centro de Salvador. A Igreja de Nossa Senhora D'Ajuda abriga um prédio original para que seja visitado, não só como patrimônio artístico cultural, mas, patrimônio religioso, pois foi dali que se iniciou a evangelização do Brasil com o Padre Manoel da Nóbrega.

A igreja é visita como marco da Evangelização do Brasil, e também vista como marco histórico e um monumento, já que é um registro do desenvolvimento da cidade do Salvador, lá se encontrando entre outras, a primeira imagem sacra do Brasil, Nossa Senhora D'Ajuda, vinda de Portugal com o Primeiro Governador Geral do Brasil, Tomé de Souza.

Após a reforma, a Igreja D'Ajuda, se reintegra a Cidade, com mais outra função, a de patrimônio da cidade, por sua localização e beleza sacra.

Com a restauração, sua parte interna, e fachadas, foram entregues em 2005, dando inicio logo em seguida ao restauro dos altares, e moveis que datam de 1549, contando com o Projeto MONUMENTA do Governo Federal, e participação do Governo do Estado da Bahia através da CONDER.

A Igreja está no eixo central da Cidade de Salvador, e necessitou grandes intervenções sem modificar a sua estrutura, guardando todas as características históricas, o que podemos chamar de Portas do Centro Histórico de Salvador.

As reformas, para alcançar o resultado, foram realizados estudos de viabilização, com intervenção do IPAC, IPHAN, para preservação histórica e ambiental, alem da Religiosa, tendo sido cumprido as exigências.

A recuperação da Primeira Catedral do Brasil e da América Latina tem grande significado não só o religioso, como também o significado histórico, pois daqui partiram as primeiras incursões dos Jesuítas para adentrar ao Brasil com a finalidade da catequese dos Índios Brasileiros.

sábado, 2 de agosto de 2008

IGREJA DA AJUDA

A IGREJA DA AJUDA E A DEVOÇÃO DOS PASSOS - UM POUCO DE HISTÓRIA

A IGREJA

Conta o Jesuíta Simão de Vasconcelos, cronista da Companhia de Jesus, que, passado o mês de abril de 1549, “o governador Tomé de Souza mudou-se para o sítio que tinha demarcado, e fundou a cidade do Salvador”.
Concomitantemente com a construção apressada das primeiras casas, os jesuítas que acompanharam as autoridades portuguesas, procuraram, de logo, levantar dentro da cerca de pau a pique uma pequena ermida, trabalhada por suas próprias mãos, por não ser possível contar com os artífices vindos do reino, todos eles ocupados com as obras de defesa da fortaleza e na edificação da casa do governo e da Câmara.

Esse pequeno templo, consagrado a Nossa Senhora da Ajuda e em certa época chamado dos mercadores, sendo elevado à paróquia teve como primeiro capelão o Padre Manuel Loureço, a quem Varnhagen completou o nome com o apelido de “Leitão”, e foi, praticamente, a primeira Sé do Brasil, a “Sé de palha”, nela pontificando o primeiro bispo, que se instalara na vizinhança.

Em 1552 a capelinha estava a ruir, Nóbrega, vigilante, bate as portas dos “senhores honrados”, rogando que o ajudem a “repara-la até que Deus queira dar outra igreja de mais duração”. A solicitação foi atendida, sendo restaurada ainda de taipa, coberta de ouricuri, mas, para conseguir soerguer tão humilde casa, foi necessário muitas vezes “pedir de porta em porta”.
Duas décadas depois foi reconstruída de pedra e cal sendo assinalado o termino das obras em 1579 com uma singela, mas significativa lápide colocada no frontispício de sua igrejinha, com a seguinte inscrição: J.H.S. 1579. Essa pedra, só descoberta quase 300 anos depois, em 1877, sob espessa camada de argamassa, achava-se em perfeito estado de conservação, sendo dali retirada sobre a pia e mais tarde, piedosamente assentada na nova igreja, no lado direito da porta principal.


Após a redenção dos holandeses, a Capela de Nossa Senhora da Ajuda, que servira de paiol de pólvora ao invasor, voltou ao patrimônio dos jesuítas que administraram até a dissolução da Companhia, quando caiu em decadência, apresentando do triste aspecto de abandono, deserta de fiéis até 1823, data em que a Irmandade do Senhor do Bom Jesus do Passos e Vera Cruz ali se instalou, obtendo posteriormente, em 1827, doação do governo imperial, ratificada pela Assembléia Geral em 12 de fevereiro de 1850.
Em 1912, o avião do progresso, invocando a necessidade de alargamento da zona em que estava construída a ermida de Nóbrega, condenou-a; a demolição foi levada a efeito, sendo elevado novo templo nos terrenos que compunham o pequeno largo que, em forma de trapézio, ficaria fronteiro a igreja desaparecida, aberto ao culto divino em 6 de junho de 1923, sendo recolocados com igual distribuição os velhos alteares e instalado o púlpito tantas vezes usado pelo Padre Antônio Vieira.

A Academia de Letras da Bahia, em 1923, assinalou essa delicada obra de talha colonial, catedral, cátedra do maior orador sacro seiscentista, com a seguinte inscrição gravada em mármore preto:

A Academia de Letras da Bahia mandou assentar essa lapide no púlpito em que pregou o insigne Padre Antônio Vieira – 2 de julho de 1923”.

O intendente Júlio Viveiros Brandão que, em 1912, dirigia o Município da Capital e presidiu a demolição da igreja, aventou a idéia, recebida com aplausos, de ser levantada em frente ao novo templo uma herma ao Padre Manuel da Nóbrega, chefe dos jesuítas que aportaram a Bahia em 1549 e a quem se deveu a iniciativa da primeira igreja intra-muros da cidade. Como documento desse compromisso do executivo municipal, no dia 6 de julho de 1923 foi colocado um pequeno quadrilátero de mármore branco, no pilar externo, junto a porta esquerda da igreja, onde se lê, como advertência aos pôsteres, aquela divida a ser saldada:

“Para com o Padre Nóbrega e seus abnegados companheiros na catequese e civilização do Brasil, a Bahia cumprirá o seu dever 6-7-1923”.

ALTARES

Na sua quase totalidade, as imagens expostas nos altares da Igreja da Ajuda remontam aos séculos XVII e XVIII, chegando mesmo alguns investigadores a conjeturar e admitir a possibilidade de ser a imagem de Nossa Senhora da Ajuda entronizada no Altar-mor, a mesma descrita por Frei Agustinho de Santa Maria no Santuário Mariano e venerada pela tripulação da nau que transportou Tomé de Souza. São dignas de especial reparo, alem da imagem do Senhor dos Passos, de que adiante falaremos, as do Senhor da Redenção e do Senhor dos Milagres, ambos vidas do século XVII, sendo que essa ultima fora abandonada pelos jesuítas carunchosa e sem braços, como imprestável ao culto, e salva de completa destruição pelo tenente coronel da tropa paga, José Pereira da Costa, que a fez restaurar e recolocar na Igreja.

Sob o Altar-mor é digna de visita à imagem do Senhor Morta, de proporções maiores que a de um homem, obra magnifica de artista baiano, e que, em 1871, segundo Melo Morais pai, tinha a mesma encarnação recebida no tempo dos padres da companhia.

No altar da sacristia figura outro Senhor dos Passos do escultor Felix Pereira, falecido na última década de 1700, havendo ainda a observar nesse local um lavatório de mármore que remonta ao século XVII, bem assim doze pequenos quadros pintados sobre madeira da escola flamenga simbolizando os passos da paixão. São dessa épica os azulejos que recobrem a passagem para a sacristia e que serviram de barra, forrando todo o corpo da igreja demolida.

O templo demolido tinha as suas paredes ornadas com grandes painéis pintados em 1843 por José Rodrigues Nunes, artista de grande cultura e renome. Esses retábulos que eram colocados nos “passos” para as cerimônias das procissões dos Passos e da Paixão, foram transferidos para o Museu do Estado, onde podem e merecem ser vistos como mostra da pintura religiosa da Bahia no século passado, uma vocacional, escultura de impressionante perfeição, talhada em carvalho, obra prima lusitana, vinda para a Bahia em época imemorial, sendo digno de registro iam-se ter sofrido encarnação o seu rosto, achando a Irmandade desnecessária qualquer retoque naquela magistral pintura.

Na parte central do altar da Irmandade, próximo da imagem, existe um cravo de ferro oferecido pelo Cons. Jônatas Abott, que trouxe de Roma, onde mandou faze-lo do “tamanho e forma do que os fariseus cravaram nas mãos de Cristo”.

Nas festividades e procissões, a imagem traz no pescoço, num relicário de ouro, cravejado de esmeraldas verdadeiras, um fragmento do santo lenho, pendente de colar no mesmo metal, oferecido em 1871 pelo arcebispo D. Manoel Joaquim da Silveira, Conde de São Salvador. Ainda circundando-lhe o pescoço, em forma de baraço, figura rico cordão de ouro, adquirido em 1863, com a importância doada por D. Porcina Neto de Oliveira Mendes, esposa do Dr. José Izidoro d’Oliveira Mendes.



ALFAIAS

A modesta igrejinha, tão rica de tradições, pejada de serviços a Deus, é hoje como outrora, pobre de alfaias.
Em 1832, pelo levantamento de um balanço, se ficou conhecido o minguado tesouro das arcas da Ajuda, composto de obras de ourivesaria, possivelmente originárias dos artífices baianos, cuja arte, por ameaçar o fabrico reino, precavidamente, foi proibida na Bahia com a extinção de oficinas, destruição de fornos, dispersão de apetrechos e inclusão de oficiais e aprendizes na tropa.
Essa a relação de alfaias em 1832:

1 turíbulo de prata com quatro marcos de vinte oitavos
1 naveta e colher de prata com dois marcos e tinta oitavos
1 cálice com patena de prata com dois marcos e trinta oitavos
1 âmbula de prata dourada
1 coroa de Nossa Senhora com dois marcos e vinte e três oitavos
1 cora do Senhor Menino com cinco e meia oitavos
1 laço de ouro cravado com diamantes
1 par de brincos de ouro com diamantes
3 cravos de prata fingindo ferro do Senhor da Salvação.


Na data presente continua modesto o trem do culto divino; a não serem os pertences usados na procissão, as varas distintivas dos juizes, de prata maciça, as forquetas, os resplendor, os revestimentos da cruz e do andor, tudo do mesmo metal, e os objetos em ouro que adornam a imagem, as suas alfaias conservam-se quase as mesmas de 1832.

A IRMANDADE DO SENHOR DOS PASSOS

A atual Irmandade do Senhor dos Passos e Vera Cruz é resultante a fusão da Irmandade que sob aquela denominação, sediava no Convento do Carmo desde o século XVII, e da Irmandade dos Santos Passos de Cristo, existente na Capela da Ajuda, segundo documentos que remontam ao meado do século XVIII (1757), e cujo orago era a imagem ainda existente na sacristia, obra de Felix Pereira. Parece que, achando-se em franca decadência e quase extinta a Irmandade da Ajuda, os seus irmãos remanescentes incorporaram-se à Irmandade do Carmo, sendo possivelmente esses que alvitraram a ocupação da Ajuda, fundindo numa só as duas corporações religiosas que tinha o mesmo patrocínio e idêntica finalidade, verificando-se a transferência do piedoso sodalicio do Convento para a Ajuda, em 13 de setembro de 1823, em virtude das grandes obras que necessitavam o Convento e a igreja, transformados, o primeiro, em aquartelamento da tropa portuguesa em 1823 e a segunda em paiol de pólvora e deposito de material bélico, trabalhos que suspenderiam ali, por tempo indeterminado, os exercícios religiosos.

PROCISSÃO DOS PASSOS

“A procissão do Senhor dos Passos foi introduzida no Brasil pelos carmelitas calçados que tinha o privilégio da cerimônia no país durante o regime colonial”; transladaram-se para o Brasil com o mesmo brilho e fervor religioso com que se celebrava na igreja das Graças, em Lisboa, sendo realizada tradicionalmente, na segunda semana da quaresma, como início do ciclo da paixão.
Os documentos dos arquivos, bem como os cronistas dos séculos XVI e XVII, não registram a época em que se verificou a primeira procissão dos passos na Bahia. Possivelmente ã fundação do convento dos carmelitas pelo ano de 1586, podendo-se afirmar com segurança que a mesma já se realizava em 1618 (10), na segunda sexta-feira da quaresma, passando pela praça do palácio.
É um espetáculo de demonstração cristã, digno de ser visto pela grandeza do cortejo, beleza impressionante da imagem e riqueza do andor, todo revestido de prata aberta em artístico rendilhado que cobre a banqueta, laterais e varais, os ciprestes ornamentais, com cerca de 60 centímetros de altura, colocados como arremates da charola. É do mesmo metal o resplendor confeccionado em 1844 e eme cujo centro se encastoou um grande rubi, bem assim todo o revestimento da cruz, feito em 1859, e a que se deram os mesmos motivos do andor.

SENHOR DOS PASSOS NA LENDA

A resolução da Irmandade em deixar o Convento do Carmo, trasladando, em caráter definitivo, a imagem do seu orago para a igreja da Ajuda, verificou-se em 1823, ano em que os acontecimentos políticos absorviam profundamente a atenção de toda a cidade do Salvador. Por isso mesmo. Logo que se atenuaram as paixões politico-partidádiras do povo, surgiram, tomaram vulto e multiplicaram-se lendas procurando esclarecer o que na ocasião lhe passara despercebido, muita vez repetindo, com pequena variantes, o que se contava nos círculos beatos de Lisboa.
Assim, segundo uns, a Irmandade, desavinda com a comunidade carmelitana, no dia da procissão ao chegar no alto da ladeira do Pelourinho, em vez de retroceder como era de uso, continuou pela Porta do Carmo até a igreja da Ajuda, onde recolheu a imagem, malgrado o protesto das frades.
Outros diziam que, tendo sido provisoriamente depositada a imagem na Ajuda, a Irmandade dos Passos dela se apoderou, recusando entregá-la; disso resultou renhida contenta entre frades e Irmandade, até que num dia de procissão procuraram os Carmelitas se apoderar à força, da imagem quando esta passava pela Baixa dos Sapateiros. E então se verificou o milagre: “apareceu uma nuvem tão cerrada de mosquitos, entre a procissão e os frades que estes, reconhecendo o milagre, desistiram da empresa e deixaram seguir a procissão” (11). Há nessa versão erros grosseiros dos seus autores, porquanto a imagem do Senhor dos Passos era depositada na véspera da procissão na igreja da Sé, cujo distrito era no dia seguinte, percorrido obrigatoriamente e ao recolher-se descia o Pelourinho e subia o Carmo.
Vai mais além à imaginação humana. E tece uma nova versão: “o Bom Jesus aborrecido com a irreverência dos soldados lusitanos, transformando a igreja do Carmo em Santa Barbara, abandonou-a miraculosamente em noite de muita chuva, sendo encontrado pela manhã na Ajuda com a túnica encharcada. Tal prodígio ocasionou indizível espanto na cidade. Compreendendo a maravilha a Irmandade deixou de reconduzir o bento vulto par o Convento”.



A atual igrejinha não lembra, sequer, aquela edificação que vinha do passado longínquo, do primeiro século da civilização. Mantém, entretanto, bem aceso o culto divino e que até hoje, são convocados os fiéis, pelo pequeno sino trazido por Pero Sardinha, o primeiro bispo do Brasil.